Por Paula Lobo,
Supervisora de Formação do Comitê Brasileiro de Clubes Paralímpicos.

O Comitê Brasileiro de Clubes Paralímpicos esteve presente ao 12º Congresso Grupo de Institutos, Fundações, e Empresas, que aconteceu entre 12 e 14 de abril, em São Paulo, e trouxe em perspectiva a necessidade de desafiar estruturas de desigualdades. Vimos um evento potente, corajoso na proposição de pautas muito conhecidas das organizações sociais, mas ainda pouco consideradas pelo Investimento Social Privado.

Decolonizar o olhar, a distribuição de poder, a concentração e os fluxos do dinheiro, as prioridades de investimento, as pautas prioritárias e as estratégias para alcançar capilaridade foram temas presentes e recorrentes nas diferentes mesas que acompanhamos.

Também muito se falou na necessária centralidade nos territórios, nas tecnologias sociais que são capazes de gerir e operar (sem qualquer recurso financeiro, como evidenciado pela pesquisa produzida pela Iniciativa Pipa), na necessidade de desburocratizar linhas de investimento, da evidente simultaneidade entre a emergência da fome que alcança 33 milhões de brasileiros e o estruturante do racismo que mata um jovem negro a cada 23 minutos, e o necessário compasso entre políticas públicas e investimento social privado para a equalização destas emergências no tempo da Agenda 2030.

Avançando com coragem entre as luzes e sombras que compõem o desafio de defender a perspectiva de decolonizar os olhares e os fazeres, a própria filantropia foi colocada em xeque, no sentido de entender até que ponto ela própria é promotora e agravante de subalternidades de grupos historicamente sub-representados.

Nesta linha, a participação da Ministra da Igualdade Racial Anielle Franco foi um ponto alto do encontro ao afirmar que os espaços de poder precisam mudar para receber os grupos subalternizados e sub-representados, e não ao contrário. E foi ovacionada de pé, por um longo tempo, por uma plateia alinhada, pelo menos naquele momento, com toda complexidade contida nesta afirmativa.

Supervisora de Formação do CBCP, Paula Lobos, e a Diretora e Relações Institucionais, Rosinha de Freitas, no 12º GIFE

E na fala da ministra encontramos um gancho importante para algo que as pessoas com deficiência vêm clamando desde os primórdios das suas lutas por direitos e inclusão social sob o vocativo “Nada sobre nós sem nós”, cunhado nos primeiros anos da década de 1980. Desde então lutam por reconhecimento, eliminação de barreiras, representatividade e acesso a tudo que as afeta e implica, com a certeza de que ainda há muito a avançar para alcançar efetividade nessa jornada. E o próprio congresso é um exemplo disso.

Ao tomar as estruturas que promovem e perpetuam desigualdade como tema chave, a programação contemplou de forma potente as interseccionalidades de gênero e raça, mas silenciou-se em relação ao capacitismo. Seguindo a trilha da invisibilidade que legitima e subalternização e a sub-representação, as pessoas com deficiência não foram consideradas nem como agenda, nem como força de trabalho, nem como audiência. Da dificuldade de usar o banheiro, passando pela tutela exagerada, até a falta de acesso adequado à principal arena de debates, os velhos e reconhecidos dispositivos de exclusão foram experimentados ao longo dos três dias de evento.

Em que pese a simpatia da direção do GIFE às pontuações provocadas pela nossa Diretora de Relações Institucionais, Rosinha Estrela, o que trazemos como aprendizagem e bagagem destes três dias é a certeza que pouco se avançou nas pautas do Investimento Social Privado, o que ao nosso ver representa tanto uma lacuna grave, quanto uma enorme oportunidade de crescimento e escalonamento das demandas por direitos e inclusão.

Trazemos também aprendizagens e referências importantes para entender as melhores estratégias a serem adotadas para impulsionar a vertente do Paradesporto e do Paralimpismo, em linha com os desafios propostos durante os três dias de debates. Iniciamos contatos e articulações que desdobraremos na expectativa de construção de pontes para o acesso das pessoas com deficiência às Agendas ESG e dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Decerto a Jornada ESG para as pessoas com deficiência e para o Comitê Brasileiro de Clubes Paralímpicos está apenas começando, e ela não será construída sem as pessoas com deficiência, que não cansarão de repetir e exigir que nada sobre as pessoas com deficiência será possível sem as próprias pessoas com deficiência estarem no centro das decisões.